terça-feira, 3 de janeiro de 2017

De volta ao trabalho

2º dia de trabalho.
Acordo e olho para a minha bebé. Ainda dorme, parece calma e serena. Levo-a para o pé da avó, ela abre os olhinhos e sorri. Preparo-me a correr, sem muitas pressas porque até acordei cedo.
Lá fora está um frio de rachar. Não tanto frio como no meu coração, mas está frio.
No comboio encontro olhares distantes, pessoas a trincar uma bolacha porque não tiveram tempo de manhã. Outros refugiam-se no telemóvel. Outros dormem. Eu observo. Observo o mundo que  me parece estranho. No metro, sinto-me apertada entre vários corpos, nem todos eles bem cheirosos. Todos eles com uma história, um passado, um presente, e a maior parte com um futuro longo.
Cheguei à rua onde trabalho e depois à porta, e já existem pessoas a fumar. Alguns sozinhos, outros em grupo. Observo como cada um tem a sua vida, as suas vivências e são apenas colegas de trabalho.
No elevador ninguém disse bom dia. Cheguei ao 2º piso e fui a primeira a chegar. Aos poucos, algumas colegas vão chegando, enquanto bebo um café e penso que há 8 meses atrás estava do outro lado do mundo. Com outro trabalho, outra vida, outra casa, outra família.
O dia passa e nada de impressionante se passa, apenas a calma de quem já não espera nada.
Volto para casa, volto a ver pessoas ausentes em corpos ocos, volto a sentir o frio na espinha e as paisagens passam pelo vidro do comboio como vivências.
Cheguei a casa e tenho a minha menina à minha espera. Sorridente, acabou de lanchar. Quer brincar. Sorrio porque ela é, de facto, uma pessoa feliz. Tem um futuro pela frente e isso assusta-me. Assusta-me porque também eu já fui assim, uma menina feliz. Inocente, com sonhos, sem responsabilidades, sem pesos nos ombros. Com o objectivo apenas de brincar e de me divertir.
A noite cai e com ela vem o cansaço, o sono, a certeza de que amanhã vem um dia igual, e depois de amanhã também.
Viver do passado, parar a vida presente e sonhar com um futuro distante tem sido o meu dia-a-dia. Há dias em que me ergo das cinzas e vou à luta; há dias em que me sinto minimamente viva. Nos restantes dias, como hoje, apenas existo.

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