sexta-feira, 26 de agosto de 2016

A Depressão bateu à porta

Ela foi batendo à porta devagarinho. Dizia-me ao ouvido coisas maldosas, queria fazer.me acreditar que era fraca, feia, gorda e que não merecia nada. Relembrava-me dos meus erros do passado e criava dentro de mim uma mancha negra e dolorosa chamada culpa.
Ela apareceu há alguns anos. Eu ignorei e tentei forçar a minha vida. Foi sempre assim: um esforço, um combate ao cansaço, uma falta de energia e de auto-estima que me foi deitando abaixo e fazendo acreditar que nada mais tinha interesse para mim.
Eu apoiei-me na única bengala que tinha. Eu chorei e não foi compreendida, eu refilei e não fui compreendida. Eu pedi ajuda e, mais uma vez, não fui compreendida.
Os anos passaram e ela não me deu tréguas. Quando cheguei a um ponto em que o próximo passo era o abismo, decidi pedir ajuda. Descobri que a Medicina pode ajudar-me, e a psicoterapia também. Percebi que a bengala que utilizava não me servia de nada. Aliás, fazia-me cair ainda mais. A bengala foi embora quando tudo piorou. Afinal as bengalas também têm pernas. Descobri que a minha única bengala sou eu própria. Se eu não lutar, se eu não me focar em mim, se eu continuar a depositar toda a minha felicidade noutro alguém, eu vou cair. Porque ninguém está para aturar os nossos lamentos e angústias.
Foi assim que a depressão me bateu à porta. Foi assim que lhe abri a porta, convidei-a para beber um chá envenenado comigo. Foi assim que encerrei um capítulo da minha vida.
Ela ainda não saiu da minha casa. Continua aqui, sentada ao meu lado, continua a dizer-me que não sei viver sem ela. Continua a prender-me à cadeira, a tirar-me a vontade de ser feliz,
Mas ela esquece-se que agora tenho outra luz, outra vida, outra razão de viver: a minha filha. Ela não vai ser a minha bengala, mas sim a minha inspiração para uma vida melhor.

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